segunda-feira, 20 de outubro de 2008

40. Para onde vai a maré?


Um compromisso que já se institucionalizara naquelas férias de Otávio era o carteado nas noites de quinta-feira, na casa do sargento, junto com Lalo e o Oliveira. Antes mesmo que o pai de Jardel ligasse à tarde, ele contava como certo que iria à sua casa à noite – não sabia ao certo, se pela constância dos convites nas últimas quintas-feiras ou porque ultimamente vinha pensando a todo instante em Jardel e imaginava que ele deveria estar de volta da viagem de Carnaval.

O rapaz, contudo, não tinha retornado. Soube dele pelos comentários dos pais. Soube que estava novamente em casa do amigo, em São Paulo, notícia que foi recebida por ele como uma estocada profunda de ciúme. Em seus pensamentos esse fato apenas confirmava o que o levara a discutir com Jardel. Ele fora apenas um passatempo, uma aventura, para o estudante que estivera um longo tempo em uma grande cidade e voltara para uma cidadezinha interiorana e não tinha com o que passar o tempo.

Os pais de Jardel ainda comentaram ainda que o filho decidira fazer o curso de especialização e que, como as aulas começariam na segunda, iria ficar por lá. Voltaria quando tivesse um tempo para buscar as roupas.

- Você gosta muito do Jardel? Não é? Perguntou Lalo a Otávio.

E essa agora? O que aquela pergunta significaria?

- Sim, a gente se conheceu há pouco tempo, mas ele foi muito gente boa, tanto que eu estou aqui, com um parceiro definitivo para jogar truco.

O sargento deu uma olhada de soslaio e uma risada, como se quisesse comentar algo e o restante da noite foi de tédio e pensamentos distantes, tudo temperado pelas piadas de Lalo.

- Quando gay sai para caçar onça, sabe como ele espera a pintada?

- Não.

- De quatro.

Risos.

- Agora, sargento, você sabe que o Oliveira tem uma dúvida?

- Já vem ele com gracinha... Complementou o Oliveira.

- Não. É sério

- Outro dia ele me falou: “Me diga uma coisa. Se você fica bêbado uma vez você é alcoólatra?” Eu respondi: “Não”. Ele continuou: “E se você dá o cu uma vez, você é viado?”

Risos.

Para fugir do ostracismo que de repente abatera sobre seu estado de alma, Otávio ficava a flertar com a promessa de Frederico. O que iria propor o boiadeiro? O que imaginar? De qualquer modo, não convinha pensar que era algo que o livraria definitivamente do tédio que ele sentia naquela hora. Com certeza seriam encontros temporários para algumas horas de sexo, viagem para ficarem alguns dias juntos, ou quem sabe, alguma prática sexual nova – alguma tara do boiadeiro. Em todo caso, a perspectiva, em relação a Frederico, ao imaginar um companheiro para viverem juntos uma relação duradoura, parecia ser de solidão. Mas aquelas palavras ao telefone o deixavam intrigado e a voz do peão circulava em intervalos por seus ouvidos.

Era esperar para conferir.

4 comentários:

Serginho Tavares disse...

essas piadas sobre gays são tão sem graça e o píor que sempre fazem para gays
eu tenho uma teoria que se não for pra humilhar a pessoa é para ver se ela se revolta e se entrega de vez.

K. disse...

senti o tedio da noite!
rs

FOXX disse...

realmente
essas piadas...

Latinha disse...

Olá! Saudades de passar por aqui...

Tem uma coisa que me deixa desconfortável nessas histórias... na onda do mais vale um pássaro na mão do que dois voando... ele Devia estar o menininho ou se envolver de vez com o Boiadeiro?! Por que no fundo, apesar de estar "querendo" se envovler com o Boiadeiro... ele de fato espera (e gosta) do outro, não?!

ai ai.. meditar eu vou! ;-)

Grande abraço!