segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

2. Fatos ordinários




Depois daquela manhã, ele passou então a pensar no percurso percorrido para chegar até ali. Sua vida, seus complexos. O menino que apenas brincava com meninas, o desejo secreto de ver e tocar os corpos nus dos garotos da escola, os sonhos intranqüilos que deram início à juventude, as namoradas que não eram vistas e as dúvidas da família verberando suas angústias. Percalços envolvidos por uma vontade enorme de chegar a algum lugar. E chegou.

O fato agora é que a magia estava faltando. Sua primeira ferramenta para buscá-la foi a internet. Supercool. Sexo, músculos, relatos, baladas, drogas, pegação, o universo pop, sites de relacionamento, contatos e distância...

Sua segunda opção foi viajar, mas até então não tinha encontrado o encanto em nenhum lugar. A volta sempre era a parte mais difícil.

Não que fizesse a linha da bicha melancólica e marcada pelas chibatadas da vida. Não. Tendo se instalado no minarete, onde se encontrava, cismava sozinho tentando achar saída para alguma parte.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

1. A gaveta



Férias de trabalho. Ele acordou naquela manhã de janeiro ansioso, ardente como toda a gente que se encontra na situação em que ele estava: contava com o fato de que os prognósticos que não se realizaram no ano passado virassem realidade ou, tinha medo que, caso não se efetivassem, tivesse que mastigar o mesmo arroz com feijão que alimentava sua boca ultimamente.

Nesses dias de descanso, nem uma viagem podia fazer. Tanta coisa acontecendo pelo mundo e ele instalado em casa, numa cidade interiorana, um círculo restrito de amigos, sem grana...
Pensando nisso, foi mexer em gavetas antigas. Achou cartas de quando não existiam correios eletrônicos - não que fosse provecto em idade, mas tão habituado estava à tecnologia que tinha se esquecido daquilo – e uma pasta verde. No susto, abriu-a. O biscoito mergulhou no chá. Folha a folha, demorou com os olhos imersos no diário escrito em outra época.

Depois disso, tantos fragmentos girando em círculos concêntricos em seu pensamento, como alguém que encerra uma mensagem em uma garrafa e a oferece ao mar, criou o blog e postou a mensagem.