segunda-feira, 1 de setembro de 2008

33. A vida continua


O dia já estava amanhecendo quando passos furtivos no corredor indicaram a ida de Otávio para seus aposentos. A conversa de despedida fora breve. Frederico sairia bem cedo para a viagem.

- Será que nos encontraremos de novo? Perguntou Otávio.
- É claro. Depois do carnaval estou aí.

- Podemos nos falar, enquanto durar a ausência?

- Se quiser, pode me ligar.

O fazendeiro ditou o número, que Otávio gravou na memória como a mais valiosa das informações. Na cama ficou repetindo a seqüência de algarismos com receio de esquecê-lo. Quando acordou perto do meio dia, o outro já tinha partido. Desceu para almoçar e em todos os cantos do hotel por onde passou, havia um vazio. Ficou sentado na recepção do hotel por algum tempo como se a qualquer momento alguém fosse entrar pela porta e retirá-lo daquele estado de impotência. Por fim, Otávio voltou ao quarto e com os olhos fixos na copa da árvore que ficava defronte sua janela, fazia mil perguntas, tentando encontrar um sentido para o que acabara de lhe acontecer. Tentava avivar na memória cada minuto do que se passara com ele e deu-se conta então que o que mais lhe causava melancolia não era a falta que fazia ter descoberto no hálito, no cheiro da pele e dos cabelos de Frederico, os perfumes que nunca sentira, o som dos gemidos e dos suspiros que nunca ouvira, tê-lo gozado loucamente, com delírio, com verdadeira satisfação de animal no cio, era estar marcado com o selo da solidão.

Desceu para acessar a internet, nenhum comentário no seu blog. Sua carência aumentou. Viu quando o Breno entrou no estabelecimento foi até ele e disse que havia terminado o projeto. O outro ficou feliz por isso. Precisava de agilidade. Afinal em ano político é preciso agir. O proprietário do hotel disse que iria ler e depois conversariam sobre a organização dos próximos passos.

Desceu novamente e ficou no hall de entrada com o jornal entre as mãos. Seu pensamento divagava. Procurava o outro pelo faro.

- O primeiro dia sempre é o mais difícil. Ouviu uma voz feminina gritando na rua.

De onde vinha aquela voz que parecia gritar para ele? Olhou pela vidraça e viu uma moça morena atravessando a rua. Foi até o bar onde estivera na véspera. Pediu cerveja. Veio a primeira, a segunda... No meio da garrafa, apareceu seu pai e sentou-se à mesa. O garçom trouxe mais um copo.

- Você não foi viajar?

- Não. Saí de casa.

Ele explicou o acontecido e seus motivos acumulados durante tantos anos. O pai concordou com tudo o que ele afirmava.

- Muito me admira ouvir isso. Não sei como o senhor é capaz de agüentar um casamento de tantos anos.

- Ela nem sempre foi assim. Mudou muito com o tempo. Mas acredite, ela me completa. Eu não conseguiria viver sem ela... Com todo aquele temperamento, ela faz por mim coisas que eu nunca encontrei quem fizesse e receio jamais encontrar... a grande maioria dos casamentos não é o que vocês, jovens, pensam que é...

Gritando para o garçom, o velho pediu a terceira cerveja e a conversa continuou. Ao final da quinta, o velho pagou a conta e disse:

- Se precisar de alguma coisa, é só me ligar.

- Ok, pai. Muito obrigado!

- Mas gostaria de pedir que você conversasse com sua mãe.

- Depois do carnaval.

Chegando novamente no hotel, lembrou-se que desde que transferira para aquele lugar, tinha deixado o carro na garagem e não mais fora ver. Desceu para verificar se tudo estava em ordem. Aproximou-se do veículo e quando deu por si, um rapaz o observava. Quando seus olhares se cruzaram o moço voltou ao trabalho. Otávio tornou a olhá-lo. Era jovem, vinte e poucos anos. Louro, cabelos compridos, estatura mediana. A roupa que usava moldava-lhe o viço dos músculos que há pouco atingiram o ápice da forma. Um belo exemplar, pensou. Olhava por interesse? Poderia não ser. Estava tão carente que qualquer homem que olhasse para ele figurava como uma promessa.

Deu a volta no carro e voltou-se para o rapaz, que o olhava novamente.

- Vai lavar o carro? Perguntou o jovem?

- Hoje não. Sábado é um bom dia. Respondeu Otávio.

- Ok. Quando precisar, é só falar com a portaria do hotel. E continuou o trabalho.Otávio ainda ficou por ali mais alguns instantes. Depois, quando acessava a porta que dava acesso ao piso térreo, retornou repentinamente para observar o moço a certa distância e o outro que tinha os olhos presos nele, abaixou a cabeça e continuou a lavar o carro.

9 comentários:

João Roque disse...

Frederico já tem substituto, ou é apenas um "intermezzo" que se aproxima?
A ver vamos...
Abraço.

BinhoSampa disse...

nossa..quantos posts...passei uns dias fora..e perdi o rumo...vou colocá-los em dias...

Abs:-)

Thiago de Assumpção disse...

é.. a vida continua

Oz disse...

Enquanto houver vontade, a vida continua. Por mais que nós insistamos em parar a meio, em tomar atalhos, em errar o caminho. Às vezes até só pelo simples gozo de trocar as voltas à vida.
Abraço.

Serginho Tavares disse...

Otávio ta podendo hein?

No Limite da Razão disse...

Fala Taro....

as coisas estão caminhando,

to vendo que na sua historias, as coisas estão mudando tb....
´
espero que esteja bem..

bjaum

SP disse...

Dizer um lugar comum: a vida é que nos vai fazendo a nós...

Um abraço grande!

K. disse...

mas... mas...!
o_O

FOXX disse...

capitulos novos
capitulos novos
jah