segunda-feira, 2 de junho de 2008

20. Córrego pro rio, rio pro mar


Como é possível conter um ribeiro que, tendo brotado entre penhas, nos cimos de montes, procurando o desnível se precipita pelo vale? Seria possível represar toda a água no topo de uma cadeia de montanhas? Considerando ser Jardel a principal nascente desse regato, o que ele trazia engrossando o curso caudaloso de suas águas? Poderia canalisar somente o filete de água desejado, separando-o de outras fontes? Otávio pensava sobre a intimação que acabara de receber. O telefone tocara e fora atender imaginando ser Jardel, mas não era o moço e sim o pai.

- Quero sua presença hoje à noite aqui em casa. Vamos ter mais uma rodada de cartas. Convidei mais uns amigos e já estou preparando um churrasco...

- Bem, sargento...

- Veja lá o que vai me dizer...

- Digo que aceito!

Ana Luísa ligou logo depois. Ficou feliz pelo desfecho com a mãe e tentou amenizar-lhe a preocupação.

- Não há motivos para ficar peturbado! Todo pai conhece o filho que tem. Ele já deve saber o porquê da sua aproximação e se te convidou, ele está dizendo que te aceita, que fica feliz...

- Isso me deixa mais inquieto ainda...

- Bobagem, se joga!

Pouco depois das 19 horas, ele aporta na casa do sargento, depois de avisar a mãe onde ia. Impossível que ela imaginasse que, estando em casa de um militar, estaria envolvido com atos ilícitos.

Na casa do sargento, além de D. Elizabeth e Jardel, duas outras famílias. O Ezequiel, um jovem militar, e sua esposa, a quem Otávio não conhecia; o Lalo, do escritório de contabilidade, Inezita, a esposa, e Beatriz, a filha, uma moça de dezenove anos.

Mal chegou, o sargento ofereceu-lhe uma cadeira, mas antes que se acomodasse, Jardel o chamou:

- Vamos para o meu quarto, quero que você ouça as novas músicas que baixei da internet... E dirigindo-se para Dona Elizabeth: Mãe, vou fechar a porta para não atrapalhar... Qualquer coisa é só bater...

Assim que a porta os colocou em recinto fechado, todo o corpo de Jardel colou-se em Otávio que não pôde resistir... As bocas uniram-se... As almas escaparam-se-lhes embendo-se no beijo ardente... Jardel apenas ergueu o som para abafar os ruídos e, como os músculos se dilatassem pelo calor, fugiu-lhes o mundo ao redor e as contrações musculares contínuas exigiram que se amainassem as velas e deixassem se conduzir pela correnteza, tal como líquidos represados que, por uma pressão natural, atravessam esfíncteres e derramam-se com abundância por tecidos rochosos.

6 comentários:

André Mans disse...

filetes de sonho
gotas suas...

Oz disse...

Ai a volúpia do desejo represado...
Abraço.

Osky disse...

Se o Sargento não for afstado do cargo digo que... Cuidado com as cascatas, a queda pode ser tão grade que chegar ao mar vai ser dolorouso!

Bjs

Aninha disse...

Bom dia,Tarco

Seus contos sempre cheio de emoção contida, que como aquele arroio ,se despenca em cataratas cheias de força e beleza.
Parabéns!
Nosso Encontro continua marcado!
Sucesso

Alberto Pereira Jr. disse...

ai..ai como eu preciso viver uma história de amor assim..

ps: tarco, também acho estranha a história dos militares gays..

Latinha disse...

É como canta Ana Carolina:

"Não dá pra disfarçar
Eu tento aparentar frieza mas não dá
É como uma represa pronta pra jorrar
Querendo iluminar
A estrada, a casa, o quarto onde você está

Não dá pra ocultar
Algo preso quer sair do meu olhar
Atravessar montanhas e te alcançar
Tocar o seu olhar
Te fazer me enxergar e se enxergar em mim" (Aqui...)

;-) Grande semana para você!!!