segunda-feira, 4 de agosto de 2008

29. O que será? O que será?


Otávio passou o resto da tarde, o início da noite e a manhã do dia seguinte redigindo o projeto. Saiu para o almoço e quando voltou já não tinha mais disposição para tal trabalho. O que fazer então? Ele relutava, mas percebia que todo seu tempo livre eram lacunas em potencial para lembrar de Jardel.

Contudo era preciso levar a vida adiante e ele se sentia deslocado sem aquilo que lhe dava segurança, a sua antiga vida estruturada ao lado do papai e da mamãe e da idéia de que um dia encontraria um companheiro com quem viveria uma relação eterna e duradoura.

Apesar de estar farto de emoções violentas – muitos foram os fatos da última semana – pedia ao minuto que passava, ao telefone que não tocava, que lhe trouxesse uma emoção que lhe preenchesse os próximos instantes e prolongasse por toda a tarde, toda a noite e toda a sua existência.

Pôs-se a pensar em como preencher o tempo e a internet lhe veio como solução. Postou mais um comentário em seu blog e atualizava-se: as últimas notícias do Alberto, no zapping news; as reflexões do Klero, no Gclichê; os perfis que compunham a galeria do Leo Carioca; o fim de semana do Mário, no limite da razão; as crônicas do Mans; riu com o “ask to gay guru” e o Goiano; as novidades do sítio peludo e do Pingüim.

Postava um comentário quando um novo hospede chegou para ser atendido. Pelo traje – calça jeans, cinto com fivelão, botinas, camisa pólo por dentro da calça, evidenciando a barriga um pouco saliente – ou pelo bigodão e pelo boné com o símbolo dos criadores de nelores, aparentava ser quarentão.

Antes de dizer qualquer coisa à atendente, seus olhos se cruzaram e seu radar já detectou aquela manchinha que somente um gay sabe reconhecer na fisionomia de outro. Pela rapidez com que foi atendido, adivinhou que era um cliente habitual daquele hotel. Quem seria? O que teria vindo fazer naquela cidade? Olhou novamente e o outro estava a olhá-lo. Ouviu quando o outro falou que iria tomar um banho e descansar da viagem. Estava na estrada desde a madrugada.

Otávio quis continuar a blogar, ainda faltavam o Tin Man, O Teorema de Oz, As Memórias Profanas, o Too-tsie, o Kazé, o Controversy, enfim muita gente, mas dentro dele reinava o desassossego. Resolveu ir para o quarto, fazer outra coisa. Quem sabe ler um dos livros que trouxera.

Ao se aproximar da escada, ouviu passos no piso superior e no hall, a meio caminho entre o primeiro conjunto de degraus para quem sobe e o primeiro para quem desce, deu de cara com o novo hóspede.

- Boa tarde!

- Boa tarde. Sabe me dizer onde se pode tomar uma boa cerveja por aqui?

- Claro, na primeira rua transversal à avenida, logo aqui embaixo à esquerda, é um bom lugar.

- Não está a fim de me acompanhar?

Mais um turbilhão em seu centro, mas o que teria ele a perder?

- É pra já!

7 comentários:

K. disse...

Ainda bem que não fiquei pra depois da entrada triunfal!!! =D

engraçado, hoje eu estava com essa sensação... de não saber o que fazer, com agir... fazendo os cem passos, andando em círculo.

mas ninguém apareceu pra me ocupar! inveja! rs

João Roque disse...

Fartei-me de rir com a minha inclusão na história; por essa não esperava eu...(obrigado pela referência); agora vamos ver em que dá este encontro; quarentões sempre foram um tipo atrente para mim, sabias?
Abraço.

SP disse...

Deixo um abraço e um obrigado pelas visitas simpáticas ao meu sítio...

Latinha disse...

Rapaz...

Será que sera mesmo?! Como eu queria saber a resposta para essa pergunta!
Escolhas, conflitos, dúvidas... impressionante como parece que passamos a vida enrolado com eles.

Abração para você!

Liz / Falando de tudo! disse...

..;tem horas que precisamos ceder a algo assim...desconhecido!

Alberto Pereira Jr. disse...

uiaaa
adoro esses encontros inesperados!
aa e obrigado pela citação de meu blog no post.. hehehe

:)

Anônimo disse...

sao esses encontros inexperados que ficam em nossas memorias adoro essas coisas sem planejamento e que nao sabemos como vai terminar abracos