segunda-feira, 18 de agosto de 2008

31. Rodeio


Entraram no quarto. Frederico rodou a chave na fechadura. Otávio encostou-se na parede para liberar a passagem. O notebook estava sobre a mesa no canto direito do aposento. O boiadeiro, em vez de caminhar para a máquina, parou e colou-se nele, enfrentando-o, colocando as duas mãos na parede, prendendo-o com o corpo. Otávio sentiu-lhe o calor e ouviu dois corações batendo compassadamente, acelerados. As respirações bafejando próximas e um odor que os excitava.

- Você é um marruá fornido, buliu com minha atenção – no estado em que estavam, a respiração de ambos se entrecortava –. Acho que vi nos seus olhos que você também se interessou por mim...

- Me desculpe se...

O outro não deu tempo para que continuasse a fala. Desceu-lhe a mão direita pelo corpo por sobre a calça até o zíper, pressionando-lhe com mãos hábeis de quem está habituado a apalpar os órgãos de reprodutores as saliências exaltadas.

- Só precisa se desculpar se não for a fim. Minha proposta é simples. É sim ou não?

- Sim.

- Falta uma única coisa.

- Qual?

- Tenho interesse apenas em ser passivo com você.

- Ok.

Mal teve tempo de balbuciar. O outro, enquanto lhe segurava a verga, enfiou-lhe a outra mão por baixo da camisa e apertava-lhe um dos mamilos, enquanto raspava os dentes no outro. Otávio deixou-se ficar abandonado nos movimentos daquele corpo que o dominava. Seus músculos latejavam, reclamando aquele homem de sangue esperto. Perceberam que, aos dois, era-lhes insuportável o estado de lubricidade.

Frederico já lhe tinha alcançado o rosto e a boca volúvel chupou-lhe os lábios e invadiu-os, puxando-lhe a língua demoradamente. Depois arrancou-lhe a camisa, livrou-se também da sua, arrancou-lhe os tênis, descalçou suas botinas e, juntando as duas camas estreitas, jogou-se de bruços sobre os colchões.

Otávio não lhe deu tempo, atirou‑se contra ele, pressionando os quadris sobre os glúteos do outro, que se arrebitou para melhor sentir-lhe a envergadura. Deitado sobre o dorso de Frederico e no estado de lubricidade em que estava, segurou-lhe então uma das orelhas com os dentes. Como aquele senhor reagisse num pequeno sobressalto, ergueu-se, montado-lhe a garupa. Ao ver o fazendeiro embaixo de si, ainda hesitou um instante, imóvel, a contemplá‑lo. Assanhou-lhe ainda mais o desejo da carne, o sangue latejava‑lhe, reclamando‑o.

Foi então que Frederico se virou, abriu o zíper e livrou-se das demais peças, colocando-se numa posição confortável para que o outro pudesse servir‑se dele. Otávio deparou-se então com uma nudez estofada e branca como se fossem duas dunas divididas por uma mata ciliar que escondia um córrego de águas escuras no centro do qual já não havia mais uma paisagem, mas uma fruta sombria, que evocava a louca e voluptuosa boca do boiadeiro.

Sorveu-a demoradamente e continuou a deslizar pela planície ao pé dela até chegar ao comprido cacho que ali se dependurava e enquanto alisava-o ou mordia-o de leve repetidas vezes, como se quisesse extrair-lhe sumo, sentia o cheiro excitante e o que ouvia era uma escala de suspiros.
E se continuasse contornando aquela geografia?

Atingiu então um galho ereto de bom tamanho, na ponta do qual se exibia intumescida pitanga, que ele curioso continuou chupando. Harmoniosa era a ária executada pelo tenor que, postado como touro que estava, vergou-se sobre os flancos para apanhar com os beiços e a língua bovina o gomo longo e macio que se esticava atrás de si. Estiveram assim a afagar-se mutuamente, como se a luz coada pelas cortinas lhes lambesse deliciosamente como se tivesse lábios mornos.

- Chega! Clemência! Me transpasse com essa tua guampa...

Em meio às roupas de Otávio, o telefone tocando... Ele tornando a fitar o desenho que se formava na orla estendida sobre um céu quase branco. Ali onde morriam as duas colinas, assinalando o meio da margem, a pérola que se adentrava no escuro recesso. Pérola, fruta ou gruta? Revestindo o cajado, ele se pôs a palmilhá-la.

Baixarias ou gozos sublimes?

Espojou-se nele, que, depois, satisfeito, envolveu-o nos braços e naquele aconchego, cansados do costeio, adormeceram.

10 comentários:

João Roque disse...

HUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMmm. Sublime!!!!!
Parabéns.
Abração

Oz disse...

Sempre que por aqui passo, leio com gosto e muito interesse o que escreves, mas, confesso, este é, sem dúvida alguma, um dos teus contos que mais mexeu comigo.
Está visceralmente belo e não há como ficar imune ao delicioso jogo das palavras e sentidos
Que a inspiração não te abandone.
Abraço.

SP disse...

Que bom ter hoje a tua visita!
E que bom ler um pedaço de TÃO boa prosa!!!
Parabéns!

Aquele abraço...

Edu disse...

Nossa, que delícia!! Que bom que você me encontrou para que eu pudesse te encontrar também! Adorei o texto e vou me colocar a ler todos eles!!

Anônimo disse...

Bárbaro!
Abraços.
Depois explica "o meu jeito de escrever" rsrs

K. disse...

olha
uma coisa fetichista toooooooda. ao quadrado!

Edu disse...

Puxa, este "capítulo" fica ainda melhor depois de ler a seqüência (autobiográfica) toda!!

Goiano disse...

meninoooooooooo
estou me recompondo
digamos q vc foi bem detalhista
huauhahuahu

Latinha disse...

É rapaz... belissimo texto...

Minha vida ainda continua parecendo um dos teus textos... ehehe, principalmente uns para trás.

Quem sabe com um pouco de sorte eu também não chego nesses capitulos mais interessantes...

Abração!

Liz / Falando de tudo! disse...

gostei muito de seu comentario em meu cantinho...
é sério que sou ironica ao comentar? nossa, nem havia percebido, prometo que voltarei com mais calma!!