segunda-feira, 11 de agosto de 2008

30. Frederico


- Você é de onde?

Enquanto explicava ao novato sua história, desceram as escadas, ganharam a avenida e chegaram ao bar. Um corte profundo cindia Otávio em duas partes complementares. Uma prestava atenção em cada palavra, em cada gesto dele e do outro, como se fosse um lance num jogo de xadrez. Outra avaliava o seu estado e combatia seu medo.

O que aquele sujeito teria visto nele para lhe propor tomarem cerveja na mesa de um bar? Seria o que lhe passava pela cabeça? E se fosse? Como reagir? Evitaria? Mergulharia na proposta?
Toda sua vida fora pautada pela ética do bom moço, pelo medo de se expor, de decepcionar os pais. No que resultara? Em traumas, tédio e solidão.

Acomodaram-se em uma mesa na calçada, o toldo azul projetando sombra sobre eles e, pelas paredes, cartazes propagandeando cerveja nas mãos de mulheres com biquínis reduzidos. O garçom encheu os copos.

- Um brinde às novidades. Propôs Frederico.

- Às novidades... Respondeu Otávio. E você? De onde vem? Quis saber.

Soube então que Frederico tinha duas fazendas no Mato Grosso do Sul. Era criador de gado e vinha freqüentemente ao leilão de bezerros e novilhas, que se realizava às terças-feiras na cidade. O melhor da região para o tipo de negócio que desenvolvia.

- Você não tem namorada? Perguntou o fazendeiro.

Ele hesitou um pouco. Tinha vontade de já declarar toda a situação.

- Não... E você?

- Sou casado. Tenho um filho com dezessete anos e uma menina com doze...

A conversa continuou. Nada que desatasse as intenções do olhar já na recepção do hotel. Apenas

um ping-pong de perguntas e respostas, olhares fixos, como se um sondasse a reação do outro em busca de um ato falho.

- E sua esposa, não reclama que você viaje para tão longe atrás de negócios?

- Minha esposa, coitada, ela é muito boazinha. Não se opõe a nada que faço, não se mete na minha vida... E você, não se casou ainda por quê? Não deve ter sido por falta de oportunidade.

- Não... Quero dizer, acho que não... Não encontrei a pessoa certa ainda.

- E o que precisa ter essa pessoa pra ser a pessoa certa?

A prosa desencadeava então para discussões teóricas.

Depois de mais de três horas, algumas cervejas e muita saliva, o celular de Frederico tocou. Ele atendeu. Pela conversa, Otávio pôde entender que era um funcionário pedindo instruções. Ao terminar a ligação, o boiadeiro olhou as horas no visor do telefone.

- Você é um bom papo. A hora passou e nem percebi... Já tem compromisso pra hoje à noite? Não quer ir comigo no leilão?

- Claro. Isso sim vai ser novidade. Apesar de morar aqui, nunca fui lá.

- Então vamos pedir a conta! Ainda preciso dar uma relaxada.

Veio a conta. Mesmo com a insistência de Otávio para dividirem o valor, Frederico pagou sozinho.

- Faço questão de pagar! Afinal, não é todo dia que a gente encontra companhia agradável...

Caminharam lado a lado no curto caminho até o hotel. O torpor do álcool provocando aqueles esbarros acidentais e desejados entre braços e ombros. Conversas sobre o tempo para prolongar a comunicação e evitar o silêncio que seria um peso naquele momento.

No hotel, Frederico abriu a porta do seu apartamento e Otávio fez menção de continuar pelo corredor, adiantando um passo.

- Quando for hora, interfone no meu quarto: 104.

- Não quer entrar pra dar uma olhada nas minhas propriedades? Frederico suspirou e sorriu. Tenho fotos e vídeos no computador...

8 comentários:

João Roque disse...

Também queremos ver todas as "propriedades" do Frederico; vais mostrar?
Abraço.

Flávio Dantas disse...

hahahaha
eita eita...

K. disse...

gente, ele é casado.
*espera continuação*
rs

Latinha disse...

hum... um ruga na testa? Mato Grosso do Sul, leilão, ...

Conheces o outro lado da ponte?!

Grande abraço!!!

André Mans disse...

QUE VENHA...

No Limite da Razão disse...

Oi Tarco,

valeu por ter reaparecido no meu blog.
Gostei, e espero que esteja bem.
Mas meu namoro acabou.....nada dura para sempre né , e existem coisas que ja vem com o prazo de validade na caixa,.

To contando como foi lá na minha pag.

abração e se cuida

Goiano disse...

haahahhah
preciso de um frederico urgente!!!
me manda um com propriedades

Anônimo disse...

chama a gente como convidado viu abracos