O telefone tocou novamente. Acordaram. O visor do aparelho indicava o número da casa dos pais. Foi então que ele se lembrou que havia prometido ligar para a mãe. Devia ser ela que estava à procura de notícias suas. Combinou então com Frederico que iria para seu quarto tomar banho e trocar de roupa para irem logo mais ao leilão e ligou para casa.
- Meu filho, estamos preocupados. Você falou para sua mãe que iria viajar e não deu mais notícias.
Explicou para o pai que tudo estava bem e que não se preocupassem. Estava curtindo as férias.
Onde iria chegar com aquela mentira? Não queria saber. O importante era viver o momento. Seus pais que o esperassem com suas preocupações. Ele não estava querendo prever nada.
Onde iria chegar com aquela mentira? Não queria saber. O importante era viver o momento. Seus pais que o esperassem com suas preocupações. Ele não estava querendo prever nada.
No banho, deixou que a água escorresse por seu corpo como se o acariciasse, enquanto seu pensamento tentava imaginar o que seria a noite ao lado daquele ilustre desconhecido que lhe proporcionara uma experiência nunca antes imaginada.
No leilão, ficou aparvalhado em constatar que um negócio como aquele existia em sua cidade e ele não conhecia nada daquilo. O que se via era algo que não imaginara existir, quase um universo paralelo. Homens e mulheres com os últimos lançamentos em carros, roupas e acessórios. Comida e bebida eram servidas nas mesas, enquanto lotes e mais lotes de bezerros e novilhas desfilavam diante dos olhos de todos. Os lances se sucediam, música sertaneja nos intervalos e os olhos de Otávio pregados na platéia masculina que infestava o local como um enxame de moscas.
Frederico se comportava como se nada tivesse acontecido entre eles e isso aumentava o desejo de Otávio por aquele boiadeiro. Só de saber que em poucas horas teria novamente aquele homem no estado em que estiveram já o deixava ereto.
Apesar de Frederico não dar mostras do ocorrido, se comportava como se o olhar de Otávio lhe apalpasse o corpo. As vezes se levantava, ficava em pé diante dele, exibindo os quadris na altura da cara. Em outros momentos, entre um copo de cerveja e um pedaço de churrasco, esbarrava propositadamente no outro ou pegava-lhe a mão no mesmo momento em que o outro avançava para apanhar algo sobre a mesa.
Depois de realizado os negócios e contratado para o dia seguinte o transporte da manada, terminado o evento, foram novamente para o hotel. Agora já não eram necessárias as preliminares da tarde. Mal entraram no apartamento, Frederico despiu-se e, sem tocar o corpo do amante, colocou-se na posição de combate. Otávio não pôde resistir, atirou‑se contra ele.
Nunca tivera um parceiro assim tão violento no prazer. Ondulando sobre o colchão, seus corpos dialogavam como se fossem macias chamas que se tocavam. Frederico sentindo o tépido corpo vibrando dentro do seu, improvisava uma sucessão de movimentos inusitados que foram crescendo até que o outro estourasse em tremor e gozo.
Otávio havia descoberto o capitoso encanto que embebeda qualquer homem limitado em suas experiências com o sexo e pode então entender, porque em várias civilizações haviam deuses para o gozo venéreo. Seu pênis, agora selvagem e raro como um unicórnio, desejava mais aventura e Frederico adivinhou essas intenções.
Deitado como estava, torceu‑se trazendo os joelhos em direção ao peito, como se fosse um guerreiro que tivesse sucumbido ao golpe do inimigo, pronto para ser golpeado. Assim, desguarnecendo-se, exibiu o vasto campo a ser dominado. Otávio não se fez de rogado e dominou-o como quem utiliza uma arma de guerra.
Redemoinhos puros e profundos de sensações os arrastavam e de ambos os lados das trincheiras, vinham sons inconscientes e desarticulados. A visão estonteante que Otávio tinha ao avistar-se penetrando uma enseada profunda com montes salientes acima dela, o transportava para terras distantes, mas ao mesmo tempo o mantinha presente naquele embate. Transpondo os montes, via-se um corpo macio, coberto de uma vegetação rasteira de pêlos que se estendiam por um ventre branco, que se alongava em tórax e ombros e pescoço e boca a murmurar gemidos excitantes e olhos e rosto e sua âncora que afundava e ressurgia e braços e as mãos de Frederico a massagearem freneticamente seu istmo ereto, pronto a explodir. Também o boiadeiro, rangendo os dentes e grunhindo debaixo daquele seu inimigo, contemplava inusitada paisagem, achando‑o também agora, como homem, melhor que nunca, aumentando um som gutural e estrangulado.
Otávio se curvou e alcançou o rosto de Frederico, metendo-lhe pela boca a língua úmida e em brasa. Depois, um arranco de corpo inteiro, com um soluço, arquejante e convulso, estocou-lho, explodindo em grosso e espesso líquido e viu então o outro irrompendo-se como se viesse a depositar sobre a cratera do umbigo aquele curso fluido que por ele circulava.
Frederico então recostou a cabeça sobre o peito do outro e, embalado pela respiração de Otávio, cerrou as pálpebras como quem se deixa ninar pela maré das águas, enquanto Otávio se deixava ali ficar, incapaz de se mover para que o outro não acordasse, com os olhos vagueando pelos cantos, fugindo para o teto, pousando nas cortinas, que se transformavam num campo e alcançavam as incomensuráveis distâncias da saudade. Ele então se esforçava para reter em sua memória aquela paisagem com seu brilho e vida para que não se tornasse nunca uma natureza morta.