Meio sonolento, sem coragem para abrir os olhos, pôs-se a escutar um ruído. Estaria sonhando novamente? Não, a manhã já ia alta, ele estava acordado. Alguém cochichava: “Ó mãe de Deus e minha mãe, livrai-o do fogo do inferno. Se preciso for, leve a alma do meu filho para o céu, mas não o deixe cair em tentação.” Abriu os olhos e flagrou a mãe aos pés da sua cama, de mãos postas, com um rosário entre os dedos. Ela se surpreendeu com o acordar do filho e saiu do quarto.
Uma preguiça enorme tomava conta de seu corpo. Doía-lhe ter que abrir os olhos e pensar. Se pudesse, queria ser desprovido de algumas faculdades humanas naquele momento. Virou-se para o lado e permaneceu imóvel. Ouviu os passos da mãe que retornou ao quarto e repetiu ave-marias a não mais acabar. Ele fazia um esforço meditativo para que nenhuma representação mental se formasse em sua mente.
Quando a mãe se retirou, cansado de estar na cama, ele decidiu:
- Não posso mais estar assim. Preciso sair dessa zona de conforto que não me é nada confortável.
Levantou-se, mas não saiu do quarto. Abriu o armário, olhou as roupas nos cabides, escolheu um traje. De quantas malas precisaria para retirá-las dali? Além das roupas o que mais levaria? Meia dúzia de livros e alguns objetos pessoais. Apenas isso.
Foi à cozinha, tomou café preto. Nenhuma palavra com a mãe que ia e vinha naquele espaço como quem tinha a segurança de existir pairando sobre qualquer mudança.
Ganhou a rua e foi direto ao hotel. A atendente era a Margarida, velha conhecida sua. Estudara com ela no grupo e desde a adolescência trabalhava naquele estabelecimento. Acertou permanência por uma semana, uma vaga na garagem. Durante esse tempo resolveria o que fazer.
Foi à cozinha, tomou café preto. Nenhuma palavra com a mãe que ia e vinha naquele espaço como quem tinha a segurança de existir pairando sobre qualquer mudança.
Ganhou a rua e foi direto ao hotel. A atendente era a Margarida, velha conhecida sua. Estudara com ela no grupo e desde a adolescência trabalhava naquele estabelecimento. Acertou permanência por uma semana, uma vaga na garagem. Durante esse tempo resolveria o que fazer.
Voltou para a casa dos pais, fechou-se no quarto, dispôs as roupas em duas malas, os objetos pessoais em uma sacola de mão. Dos livros, escolheu três e deixou os outros na estante.
Ao sair, a mãe perguntou:
Ao sair, a mãe perguntou:
- Onde você vai?
- Viajar.
- Pra onde?
- Não sei, no caminho decido...
- Mas agora, assim, desse modo, sem nenhum planejamento...
- Uma viagem dispensa esses protocolos!
- Ah, meu Santo Antônio, valei-me. Livrai-me das minhas aflições!
- Dispense também o santo dessa obrigação... Eu ligo quando chegar, se é que isso vai te deixar mais calma.
- Quanto tempo vai demorar?
- Também não sei...
No hotel, estacionou o carro na garagem, acomodou as malas no quarto, fechou a porta, deitou-se e pôs-se a fazer o exercício de não pensar em nada...
5 comentários:
O "suspense" continua...
coisa de liberdade...
Ó mãe de Deus e minha mãe, livrai-o do fogo do inferno. Se preciso for, leve a alma do meu filho para o céu, mas não o deixe cair em tentação.”
Absurdos do excesso religioso. Igrejas Católicas e Evangélicas não respeitam o próximo e ainda preferem matar a ter seus caprichos contrariados. Apesar de ser espírita, por essas e por outras que não suporto estar com gente dessa espécie do meu lado.
¿Beijos!
Esse tipo de comportamento a gente vê direto na maioria das mães.
rs E ainda tem gente que diz que mãe tá sempre certa...
Bom, e você? Tá melhor?
Abração! Tudo de bom!
Bom... e a curiosidade sempre aperta, eheheh. Bom, para variar estou adorando os textos...
E ficam os votos de uma grande semana para você!!!
Abração!
Postar um comentário