segunda-feira, 14 de julho de 2008

26. O céu da Pátria nesse instante!


Os olhos de Otávio enxergavam através da tela do computador algo que já era passado. Rememorava. Mais uma promessa que se extinguira. Curta possibilidade que se desenhou no céu da pátria, por um instante. Diante da tela do computador, pouca atenção prestava nos blogs que acessava.

O domingo de sol tinha terminado de modo inesperado. Ele até se atreveu a ir ao rio pescar, mas, como Jardel acordara passando mal, vieram embora mais cedo. Largaram o Lalo, o Ezequiel e as respectivas famílias na chácara e puseram-se na estrada. O silêncio que os oprimia dominando cada quilômetro percorrido. Depois daquela situação o que restaria?

Ouvia ainda as risadas de Lalo e Ezequiel sobre as piadas que contavam entre uma e outra lata de cerveja. Ficavam martelando em sua cabeça. Será que tinham curiosidade de viver uma relação homossexual? Uma das anedotas lhe parecia sintomática:

- Então, a mulher mandou avisar o compadre que o marido sairia de vigem. Na hora marcada, o compadre chegou na casa da comadre, escutou a água caindo do chuveiro e pensou: “É ela que está se aprontando!”. Tirou a roupa, deitou por cima dos lençóis e ficou ali sentindo nas partes baixas a aragem que entrava pela janela. De repente a porta do banheiro se abre e quem entra no quarto? O marido da comadre! “Mas compadre o que significa isso?” “ Sabe, compadre, estava em casa, numa angústia danada e não sabia o que se passava. Foi aí que, num relance, eu finalmente compreendi. Tenho que te contar, não posso mais esconder isso de você.” “Mas o que foi, compadre? Isso é motivo pra você ficar pelado em cima da minha cama?” “Compadre, não zombe de mim, mas morro de vontade de dar pra você!”

O que era uma relação senão uma luta? Começava pela atração e caminhava para onde? Para a debilidade, a desconfiança, o medo de perder, de ser trocado por outro, de ouvir um “não”, ou para a resignação dos desejos... Não queria entrega integral, mas certa consideração. O que custaria a Jardel uma renúncia? Nem precisaria uma renúncia, poderia ser apenas uma reformulação de planos, até que pudessem viajar juntos...

Seria possível nova conversa entre os dois? Um pedido de desculpas? Quem deveria fazer esse pedido? Ele deveria pedir desculpas? Por que, se lhe parecia que o que o outro esperava de um relacionamento era estar com ele e ao mesmo tempo ser livre para estar com quem quisesse? Uma conversa honesta e franca resolveria? E o que cada um faria com seus sentimentos, quem abriria mão do bem próprio?

Ás vezes achava que isso é que dificultava dois homens às propensões do amor. Homens não foram educados para cederem, para o gesto carinhoso, terno, meigo. Quem iria se desviar das normas preestabelecidas, dos seus domínios? Era muito individualismo para que isso fosse uma solução!

E o sonho de se ter um companheiro? A vida não poderia ter mais encontros do que desencontros? Não haveria alguém no mundo que satisfizesse uma razoável percentagem das suas aspirações? Que fosse capaz de abdicar das seduções do mundo para amá-lo do jeito que era?

No meio da noite acordou de um sonho esquisito. Ele e Jardel pilotavam dois jatos. Voavam paralelamente a uma grande velocidade. A princípio, olhavam-se e sorriam. Aos poucos o gelo foi se acumulando sobre as aeronaves e os pilotos já não podiam se ver. Seguiam apenas as coordenadas dos radares.

6 comentários:

João Roque disse...

Adorei a "anedota"...
Abraço.

K. disse...

O que era uma relação senão uma luta?

kundera escreve sobre isso... que o amor é quase uma guerra para a qual vamos sem nenhuma arma

Latinha disse...

Eu prefiro a idéia de que uma relação é a arte da diplomacia... não exatamente uma guerra.

Ah sim momentos que palavras duras precisam ser usadas, mas em geral, uma boa conversa e a nobreza de um pedido de desculpas sempre podem ser o bom início.

Tudo é claro com ambas as partes se respeitando... e interessadas em continuar juntas... Ao vencedor as batatas, alguém até poderia vangloriar-se de não ter pedido desculpas, mas provavelmente o grande vencedor foi aquele que com esse pedido, ficou perto de quem amava. ;-)

abração! Grande semana para ti!

Leo Carioca disse...

Eu não sei exatamente se os homens não foram criados pra ceder. Pelo que eu vejo na maioria das vezes, eles sabem ceder, mas não em excesso.
Me parece mais que as mulheres é que cedem mais do que devem pra manter o relacionamento a qualquer preço.
E sinceramente, eu não gostaria de ser como elas. Tô muito bem tendo o comportamento dito masculino.

Anônimo disse...

Com toda sua simplicidade um belo texto,fiquei com gosto de quero mais quando chegou ao fim.

¿Controversy! disse...

O grande problema das pessoas, de modo geral, é que não querem ceder em nada para terem seus relacionamentos duradouros e acham que relacionamento é posse, deixando que o outro fique sem liberdade alguma. No dia em que as pessoas aprenderem a respeitar ao outro, com certeza teremos mais casais felizes.
¿Beijos!