
- É estranho que a senhora me convide para isso.
- Bem, você me desrespeitou...
- Se a conversa vai por aí, é melhor nem começarmos. Só passei para pegar algumas roupas...
- Fique. Não há um meio de nos reconciliar?
- Sim, há. É só você não forçar a barra...
- Acho horrível quando você fala assim, mas vou fazer um esforço.
O que fazer daí em diante? Qualquer palavra era um risco.
- Deliciosa!
- Obrigada!
Foi ao quarto, precisava descansar. Deitou-se, passou por um cochilo e acordou com o telefone vibrando sobre a mesa de cabeceira. Era Jardel querendo saber se já estava instalado. Ao ter conhecimento da reconciliação, perguntou se gostaria de sair para conversar e ficarem juntos. Otávio se desculpou e preferiu ficar em casa. Ainda estava abalado. O outro disse então que um plano lhe passava pela cabeça, passarem juntos o final de semana em uma chácara.
Segundos de silêncio e, antes que Otávio dissesse algo, Jardel acrescentou:
- Sei que seu momento é difícil, mas não me diga que você está pensando em recusar a possibilidade?... Não está com saudade das minhas músicas e dos meus drinks?
- Aceito.
- Ok, então descanse e me ligue amanhã para conversarmos.
A noite desceu e ele absorto pensando em tudo. Aquele rapaz em sua vida, aparecendo de repente, como num passe de mágica! Tudo o que ele procurava! E o acirramento do conflito com a mãe? Estava com receio de enfrentá-lo. Quando haveria de pôr nele um ponto final?
As horas se lhe foram navegando na internet. Acessou seu blog que permanecia sem nenhum comentário. Postou mais um recado. Nele relatava o conflito que estava vivendo. Porém de que adiantava redigir esse memorial eletrônico, se ninguém o lia. Sua intenção, quando o criou, era postar crônicas do seu dia-a-dia para exercitar a escrita e se quisesse um feedback, era preciso comentar as páginas dos outros. Mas pedir a atenção dos outros o fragilizava.
Mas daquela semana em diante não poderia mais ser o mesmo. Era preciso se estabelecer, jogar-se no mundo, sair da inércia. Escolheu aleatoriamente um dos muitos sites que visitava para, pela primeira vez, postar um comentário. Abriu o blog do Mans. Leu os posts do dia. O glamour e a tragédia: um falava do Oscar 2008 e o outro da morte de Heath Ledger, o eterno Ennis Del Mar, de Brokeback Mountain, como dizia Mans. A impossibilidade de ser feliz! Lembrou-se da solidão que lhe invadiu ao assistir ao filme, esse sentimento que aprisiona e acaba com a vida. Entristeceu-se. Pensou em Jardel. No convite que lhe fizera. Sorriu. Escreveu seu recado e deitou-se para dormir.