segunda-feira, 21 de abril de 2008

14. Bem, e o jantar?


Eram sete horas quando ele tocou a campainha na casa do sargento. Dona Margarida estava sentada na varanda, quando chegou. Teve a impressão de que uma câmera o vigiava, podendo revelar a qualquer hora um seu segredo.

Os minutos que estivera esperando no portão pareceram-lhe um século. Teve tempo de observar o jardim. Só agora via a palmeira viçosa que balançava as folhas, como se quisesse dizer alguma coisa. Jardel veio abrir-lhe o portão de shorts, camiseta e chinelos. Vendo o moço tão à vontade, sua memória se avivou e suas pernas fraquejaram e um cavalo começou a galopar dentro do seu corpo. O coração aos pinotes.

Trazia uma garrafa de vinho. Foi recebido na cozinha. Cumprimentos curtos, mas cordiais. A televisão ligada exibia o noticiário local. Um empresário fora assassinado em uma estrada vicinal. Os indícios levavam a um garoto de programa.

Acabadas as notícias, Dona Elizabeth, a mãe de Jardel, voltou à sua realidade imediata, preparar a massa. O sargento sentou-se à cabeceira da mesa, Jardel na outra ponta, ele no meio.

– Então você e o Jardel fizeram festa ontem?

Ele engoliu em seco. Procurou alguma coisa para falar.

– Pai, não foi festa... A gente se encontrou na sorveteria e viemos pra cá beber e comer alguma coisa. E voltando-se para Otávio, disse: é uma pena que a Luísa e a Adriana tiveram que ir embora cedo!

Como ele podia inventar uma coisa assim, na hora? Estava dizendo aos pais que mulheres participaram do encontro do dia anterior? Isso daria certo? Jardel e seus imprevistos...

– É realmente uma pena!

No susto, a conversa se iniciou e enveredou-se para outros rumos. Falou-se da infância do sargento, dos seus familiares. Depois, por causa de uma intervenção de Dona Elizabeth, o sargento começou a falar mal dos pais e dos parentes da mulher e por fim, chegando a hora de servir o jantar, colocou defeito também no vinho que Otávio trouxera:

– Pai, mas isso é coisa que se diga do presente que a visita trouxe?

– Ah, Jardel, se eu não puder dizer isso para quem vem na minha casa vou dizer para quem? Se o Otávio veio na minha casa, ele é meu amigo e essa é a verdade. Esse vinho é industrializado. Tem o rótulo de importado, mas não chega perto do vinho de colônia que tenho aqui... Foi buscar o vinho e distribuiu em taças para todos.


O jantar foi calmo. Serviu-se o vinho da visita para comparar com o do sargento e, Claro, o dele foi melhor! Terminado o jantar, Jardel pôs-se a lavar a louça. Ele se ofereceu para ajudar e foi impedido pelo chefe da casa.

– Depois que eles acabarem a arrumação, vamos jogar cartas. E apontando para a esposa e para o filho continuou: mas já vou avisando, não quero jogar com vocês, que são muito ruins de jogo. Vou de parceria nova...

Terminada a louça, Dona Elizabeth indicou:

– Antes, vou colocar a roupa suja de molho. É só um instante. Amanhã, a empregada vem. Quero adiantar serviço.

O sargento foi buscar o baralho e Otávio então lembrou-se de avisar a mãe. Não queria outra cena ao chegar em casa. Jardel mudava a toalha da mesa, quando Dona Elizabeth surge trazendo em uma mão a calça e a cueca que Jardel usava no dia anterior e na outra, o celular.

– Jardel, de quem é isso aqui?

8 comentários:

João Roque disse...

Tens uma habilidade extrema para nos deixar, pos a post numa expectativa maior...
Abraço.

descolonizado disse...

uau!
adorei ... quero saber logo o resto!

valeu pela visita
abraços.

Gui Sillva disse...

e viva a ficção!!!
esperamos pelo final!

Mari disse...

Olá
Obrigado pela visita.
Seu Blog é magnifíco..voltarei sem dúvida para saber no que vai dar isso..
abração

No Limite da Razão disse...

Olá queridão....

aqui em sampa as opções de baladas são sempre as mesmas ....não pense que é só no interior não.

E ai ? qual foia reposta para a mãe ???? To curioso.

beijaum

Latinha disse...

Olha.. mesmo eu que não bebi o vinho, senti ele borbulhar no estômago... lendo isso, me lembrei de uma situação que acabei vivendo uns tempos atrás.

Eu era só o amigo "coadjuvante", mas já transpirei um bocado...

Você escreve muito bem e nos seduz a cada dia... admiro isso...

Grande abraço e obrigado pelas visitas!!! Volte sempre!!!

Alberto Pereira Jr. disse...

tensão

:)

Anônimo disse...

Risos, muitos risos! Não seja tão Janete Clair, rapaz! Ou melhor: seja sim! Essa narrativa tá muito boa, inclusive com mais um trecho que me chama a atenção: "Um empresário fora assassinado em uma estrada vicinal. Os indícios levavam a um garoto de programa." Estrada vicinal é ótimo!

William.