segunda-feira, 14 de abril de 2008

13. As vozes


Depois do telefonema, os pensamentos de Otávio estavam mais acelerados. Refez o percurso do dia anterior ligando para a sorveteria e para o supermercado. Ninguém havia encontrado o celular. Onde o teria perdido? Na rua?


Justamente quando se assinalou uma promessa de relacionamento, perdera o que poderia ser um canal privativo de comunicação entre ele e seu amante. Se bem que, depois de o sargento ter atendido ao telefone do filho, não tinha mais certeza de tal sossego e recato.

De qualquer forma, não estar de posse de seu aparelho, angustiava-o e ele gostaria de saber o que esse extravio estava a significar. Então ouvia rumores. O caso não era mero acaso. Revelava coisas inconscientes e que, por escapar-lhe à razão, jamais saberia o que eram. Daí, sentindo-se ansioso demais, percebia que a possibilidade que se acenava o fragilizava e que, querendo ter domínio absoluto de tudo, cometia distrações que a qualquer hora poderiam levá-lo a xeque. Quando já se ia chafurdando em perturbações, buscava alívio em outros conselhos. Queria acreditar que tudo estava correndo bem. Afinal não acontecera o inesperado? Ele que, naquela cidade, vivia dias melancólicos com a perspectiva da solidão não tinha encontrado um rapaz que era uma esperança para suas fantasias?

Era pensar assim que lhe vinha assoprar aos ouvidos uma voz diversa das anteriores, picando-lhe o espírito e exigindo-lhe cuidados com o compromisso marcado para o início da noite. Por que Jardel agia tão de improviso? Gostaria de se encontrar com ele antes, combinar detalhes. Iria chegar totalmente desprotegido.

Mas como é da natureza de tais sugestões íntimas, elas têm lá seus meios visguentos e, antes que qualquer fato aconteça e que saibamos se pertence ao gênero da comédia, drama, tragédia, aventura, terror, suspense, propulsionam a gente. Eis que lhe Vinha uma outra incitação: mas perturbar-se com idéias fixas e antecipadas com o que pode acontecer em um jantar em que se vai conhecer os futuros sogros também não é um aspecto do controle?


Ele refletia, esquecia por alguns instantes os pressentimentos para, logo em seguida, os pensamentos retornarem misturando tudo.

8 comentários:

João Roque disse...

Isto foi um "intermezzo"...
Quando vem a acção???
Abraço.

Oz disse...

Agora só não vale dizer que o roteirista deste argumento entrou em greve e que, tão cedo, não vai deixar sair cá para a fora o próximo episódio...
Aguardamos
Abraço.

Goiano disse...

gente... isso é pertubação espiritual
huauhahua
to brincando

bjos

Latinha disse...

Intrigante... me deu uma "comichão" estranha, fico aguardando a continuação. Engraçado né, a gente nunca espera por alguma coisa boa nessas horas... sempre pensamos no pior.

Desculpe pelo sumiço, houve um "abalo na força" e fiquei 'fechado para balanço' por uns dias. Mas espero vê-lo mais vezes lá na estrada dos tijolos amarelos... eu com certeza volto... ;-)

Abração!

¿Controversy! disse...

De fato, quando estamos perturbados com alguma coisa, sempre deixamos de lado certos atos prudentes e negligenciamos coisas bobas. E conhecer os pais daquele que amamos não é fácil, pelo simples motivo que se não agradarmos à eles, serão um estorvo em nossas vidas.
¿Abraços!

Latinha disse...

Grande fim de semana para você!
Abração!!!

Alberto Pereira Jr. disse...

mas e ai.. como foi o jantar?
encontrou o celular? está namorando?

to muiito curioso e torcendo para que dê tudo certo!

Anônimo disse...

Risos. Esse trecho "e ele gostaria de saber o que esse extravio estava a significar." me foi muito divertido. Lembrou-me das narrativas do século XVIII.

Abraços.
William.