Vendo o seu celular nas mãos de Dona Elizabeth, Otávio olhou atônito para Jardel.
– Deve ser da Luísa ou da Adriana! Acudiu Jardel.
– Mas como foi parar no cesto de roupa suja, no meio das suas peças?
– Eu é que sei? Devem ter usado o banheiro, colocado em cima do cesto e esquecido. Sei lá... Pode ter caído sem que se tenha visto... Depois joguei a roupa por cima... O moço parecia nervoso ao tentar explicar.
O sargento olhou por cima dos óculos, como se enxergasse longe.
– Olha aí que deve ter alguma coisa registrada. Era o sargento insistindo.
Otávio gelou.
– A bateria arriou. Respondeu Dona Elizabeth.
– Sempre há um restinho. Liga que dá pra ver de quem é. Repisava o marido.
– Me dá aqui. Amanhã eu ligo pra elas e resolvo isso. Atalhou Jardel.
Em meio a esse desconforto, o jogo iniciou. Ele e o sargento já tinham ganhado duas partidas, quando o telefone tocou. Jardel se recusou a atender. Dona Elizabeth, com uma paciência bovina, levantou-se.
– Maria Luísa, que coincidência, falamos de você há pouco!
Jardel foi rápido:
– Deixa que eu falo com ela.
E, praticamente arrancando o aparelho da mão da mãe:
– Já sei... Perdeu seu celular.
Otávio tentava imaginar a surpresa dela, quando o outro anunciou:
– Ele está aqui. Quer falar com ele?
Vacilando, ele ouviu Maria Luísa dizer:
– Otávio, tentei falar com você o dia todo... Seu celular estava sempre desligado... Liguei duas vezes pra sua casa, a linha estava ocupada... Agora à noite, tentei de novo e sua mãe me disse que você havia saído...
Ele, que ia pensando na reposta que daria, soltou no ímpeto:
– Não sei o que aconteceu. Coincidência, só pode ser!
– Queria te contar o que me aconteceu ontem... E mudando o tom de voz: Ah, e agora estou curiosa pra saber da festa... Mas já percebi que você não vai poder falar...
– Desculpa, eu não pude te ligar hoje... Mas que tal a gente se encontrar amanhã às três da tarde na sorveteria?
– Combinado!
O jogo prosseguiu e Otávio, embora estivesse ganhando todas as partidas em parceria com o sargento, deu vários sinais de que precisava ir embora. O parceiro sempre dizia que era cedo e servia mais vinho. Às duas da manhã, Dona Elizabeth disse que precisava dormir. O marido protestou:
– Mas o que é isso, Beth? Estamos de férias...
– Vocês estão de férias...
Otávio então aproveitou o mote e se despediu, enquanto o sargento, já enrolando as palavras, fez
com que ele jurasse que voltaria para tomar vinho e jogar cartas. Iria chamar outros parceiros. Jardel, também já alcoolizado, acompanhou-o até o portão.
com que ele jurasse que voltaria para tomar vinho e jogar cartas. Iria chamar outros parceiros. Jardel, também já alcoolizado, acompanhou-o até o portão.
Ele tinha sobrevivido.
Olhando para as estrelas e a lua que, apesar de minguante, pairava como uma pérola numa
concha, como se aproveitassem aqueles minutos para ficarem a sós, caminhavam devagar. Otávio esperava distanciar um pouco para pedir providências a Jardel em relação a suas mentiras, quando o outro puxou-o e empurrando-o contra o tronco da palmeira do jardim, sugou-lhe os lábios.
concha, como se aproveitassem aqueles minutos para ficarem a sós, caminhavam devagar. Otávio esperava distanciar um pouco para pedir providências a Jardel em relação a suas mentiras, quando o outro puxou-o e empurrando-o contra o tronco da palmeira do jardim, sugou-lhe os lábios.
– O que é isso? Você está louco!
– Você não acha que iria embora sem me dar um beijo.
– Mas aqui no jardim?... No portão da sua casa?... E se seus pais estiverem olhando?...
– Se eu pedisse, você não toparia. Beijo roubado tem mais emoção!
Jardel entregou-lhe o celular.
– Obrigado... Tchau... A gente se fala amanhã?
– Não. A gente se vê na sorveteria...
Dentro do seu peito o animal trotava.