quinta-feira, 13 de novembro de 2008

43. Confusos labirintos


A avenida estava movimentada. Otávio encostado no pátio da loja de conveniência observava os carros e as pessoas que passavam com a garrafa de cerveja nas mãos. Quem o avistasse logo notaria que seus olhos pareciam ver através da agitação uma outra realidade. Somente seu corpo estava presente ali, toda sua atenção se voltava para algo que apenas ele enxergava.

Na verdade, ele ouvia. Em seus tímpanos, a conversa com o pai repisava como se um aparelho estivesse com a tecla “repeat” acionada:

- Aqui você vai continuar se escondendo e se negando o tempo todo. Só posso te dizer que vou fazer o que puder para te ajudar.

- Obrigado.

- Mude-se daqui pra uma cidade maior, onde existam mais possibilidades. Eu posso te ajudar até

você se estabelecer novamente.

- Não sei se seria o caso.

- Aproveite enquanto você é jovem. A vida passa rápido.

Ele tinha agora mais essa possibilidade, mas a idéia de sair daquele lugar se misturava com a figura daquele pai que lhe apareceu de uma hora para outra, tão desconhecido dele, tão inesperado, que ele se perdia.

Resolveu sair daquele ambiente agitado. Pôs-se a andar por uma rua que cortava aquela outra tão animada pelos flertes da juventude da cidade. Mais adiante tinha uma pracinha tranqüila. Foi para lá que se dirigiu

Sentou-se em um dos bancos. Continuou se movimentando pelos canais de seu pensamento. O pai ainda se misturava com a possibilidade de se ausentar-se dali, quando ouviu:

- Sozinho por aqui?

Em pé à sua frente estava o Renato, o viado mais conhecido e falado da cidade.

3 comentários:

Serginho Tavares disse...

uma oportunidade dessa eu nem pensava!

João Roque disse...

Ainda há pessoas com pais compreensivos a migos; eu fui um deles...
Abraço.

K. disse...

até me fez sorri